{R/C} Sala de Jantar

Isto devia ser irrisório. Eu nervoso, a andar de um lado para o outro para garantir que estava tudo no sítio para que o jantar corresse bem e a Deusa fosse bem servida.
Inspirei e expirei fundo, mas não ajudava nada.
O Moritz devia estar a chegar com ela.

Depois de termos saído do quarto, ele guiou-me em silêncio pelo castelo. Quando nos aproximava-mos de uma porta, esta abriu-se, revelando uma enorme sala de jantar. Era elegante, com tons dourados e brancos. Tal como nos restantes cómodos, monstruosos candelabros decoravam e iluminavam o espaço. Eram divinais!
Assim que vi o Rei do Submundo, fiz uma ligeira vénia respeitosa.

Guiei a Deusa pelos corredores, era quase palpável a ansiedade que Hades tinha de a ver pelo poder que se sentia pelo castelo. Bem, pelo menos eu conseguia sentir algo.
Ao chegar-mos perto da sala de jantar a porta abriu-se e entrei depois da Deusa.
- Hades, trago a Deusa Perséfone para jantar consigo.

Ela vinha ainda mais divinal do que há momentos, quando chegou ao meu reino.
Encaminhei-me para ela e peguei-lhe numa das mãos para a beijar, como era suposto um cavaleiro fazer.
- Podem servir o jantar. - Disse. - Estás bela. - Dirigi-me à deusa.

O seu toque era quente e confortável e os seus lábios macios e suaves, apesar da pequena corrente eléctrica que me percorreu. Sorri com amabilidade, apesar do nervosismo. Ele era só um deus. E eu, supostamente, uma deusa. Eles deviam fazer jantares destes todos os dias.
- Também não está nada mal. - Disse suavemente. - Com que iguarias me presenteará esta noite? - Questionei, mais para fazer conversa.

Sem que eles dessem por isso, retirei-me para os deixar a sós. Eles teriam de tratar do resto sozinhos e sabia que Hades preferia assim.

Encerrado

Moritz saiu e ficamos ambos a sós. Fiquei ao mesmo tempo tranquilo e nervoso... E se eu dissesse ou fizesse algo de errado?
Tinha de ser natural, certo?
- Ainda assim, hoje parece que iluminas este lugar. - Sorri-lhe e convidei-a a sentar-se. - Hoje temos para comer tudo o que possa desejar. Uma variedade de frutas, fumados e muita ambrósia, certamente que deves adorar ambrósia. 

Aceitei o seu convite e sentei-me. Foi bastante cavalheiro neste aspeto. Já não se viam destas coisas lá em baixo...
Lá em baixo... Pfff. Vai-se lá entender.
- Bem, não sou o deus do sol, mas com tanto elogio vou corar ao ponto de lhe roubar o lugar. - Brinquei.
Quando ele falou da bebida, controlei o riso.
- Sim, é algo de muito refrescante. - Comentei. - E a sugestão de ementa parece igualmente deliciosa. Hoje sairei daqui a rebolar, pelo que vejo. - Disse descontraidamente.
Será que a minha linguagem estava adequada a uma deusa? Não, provavelmente não. Aposto que as deusas só comiam duas uvas e ficavam logo cheias e eu a falar de rebolar... Isto não vai correr bem.

A sua cara ficou ligeiramente ruborizada e senti algo mexer-se dentro do meu peito. 
- Duvido que ele chegue aos teus calcanhares em beleza e em brilho. - Contradisse e sorri. 
Peguei numa romã e aproximei-me dela.
Ela parecia estranhamente descontraída... Bem, há muito que não ia ao Olimpo, não sabia como as coisas andavam por lá.
- Acho que vais gostar desta.
Abri a romã e alguns vago soltaram-se, sentia vontade de lhos dar à boca.

Soltei uma pequena gargalhada nervosa.
- Eu não digo? Vou sair daqui com o ego no máximo. Depois ninguém me vai aturar. - Brinquei.
Quando ele estendeu a romã aberta, os seus vagos vermelhos não chegavam aos calcanhares das minhas bochechas. Queria um lugar para me esconder...
Gaia prometera-me que aquilo era apenas uma história tola (e eu sentia-me tola), mas era tanta coincidência...
Abanei a cabeça, atirando aqueles pensamentos parvos para longe e peguei na fruta, chupando-a delicadamente.
- Está deliciosa!

Ela não era nada daquilo que eu pensava ser... As suas palavras, a forma como agia... Não era a Perséfone que me tinha sido dado a conhecer há muito tempo atrás. 
Talvez tenha mudado, talvez nunca tenha visto realmente como ela era, porque a verdade é que nunca tive muito tempo com ela.
- Ainda bem que gostas. - Vê-la sugar os vagos... Bem, deixava-me agitado no interior. - Bebe um pouco de ambrósia. - Enchi-lhe o copo.

Aceitei o copo de bom grado, precisando dele para relaxar um pouco. Estava a mil no meu interior e tinha uma enorme tendência a dizer asneiras ou simplesmente falar em demasia. Isso não deveria acontecer.
- Muito obrigada. - Disse depois de me refrescar. - Adoro ambrósia! - E vou sentir muita falta quando me for... Principalmente nos dias de maior stress. - Ouvi dizer que era o Deus das Pedras Preciosas. - Comentei na brincadeira, erguendo o olhar para o candelabro daquele cómodo.

Peguei no meu copo de ambrósia e dei um gole para poder pensar antes de falar e, assim, não me precipitar na resposta.
Levantei o olhar e olhei para o candelabro.
- Na verdade, as pedras preciosas estão ligadas ao subsolo, ficam debaixo da terra, daí que eu tenha alguma afinidade sobre elas. Sabias que cada pedra tem um significado?

Quando ele disse aquilo, mirei-o de boca aberta. Sempre pensei nas pedras como pedras. Será que elas tinham sentimentos e aquilo ofendia-os?
- Não sabia. - Disse admirada. - Que pedra é esta que tem aqui na sala e o que significa?

- Esta é o diamante, simboliza a verdade, a pureza, a perfeição, a dureza, a maturidade, a imortalidade, a limpeza, a fidelidade, a energia. - Fiz um relato, feliz por estar a falar de algo que eu gostava com alguém que realmente parecia interessado em ouvir. - Uso-a aqui para que debaixo deste tecto sejam realizadas refeições que perpetuem a verdade e a fidelidade. - Justifiquei. - Tu, qual é a pedra que mais gostas?

Ouvi as suas palavras com atenção, olhando admirada para as pequenas pedras. Nunca tinha pensado realmente naquilo. Mas, agora num lugar de magia, tudo aquilo soava tão poderoso!
- Está explicado porque o diamante é o melhor amigo da mulher. Simboliza a perfeição. - Brinquei.
Quando ele perguntou qual era a minha pedra preferida, mirei-o. Nunca tinha pensado realmente naquilo. Tinha algumas joias que me tinham sido oferecidas e poucas tinha adquirido por minha própria conta.
Depois de pensar um pouco, lembrou-se de um pequeno pingente que tinha oferecido a si mesma, no seu ultimo aniversário e como tinha adorado a pequena gota roxa que sempre tinha ao peito.
- Ametista! - Exclamou em resposta.

O meu olhar ficou sério a observá-la, a ponderar se ela era uma mulher materialista. Por isso, não falai, fiquei à espera de ela me responder à pergunta que lhe tinha feito.
Fiquei mais tranquilo quando ela respondeu.
Sorri.
- A ametista é uma pedra fantástica, ela significa equilíbrio e sabedoria. 
Era uma boa escolha, dizia muito dela e fez-me olhá-la com outros olhos.

Sorri de contente. Gostava das características da pedra. Enquanto muitos desejavam que a sua vida se agitasse, eu desejava que a minha vida vivesse loucuras, mantendo sempre o equilibro.
- Que giro! - Exclamei extasiada. Queria perguntar mais, mas tinha receio de tornar-me aborrecida. - Posso questionar mais uma?

O jantar estava a correr bem, isso começou-me a descontrair mais. Peguei num copo de ambrósia e dei um gole.
- Sim, claro que podes. - Sorri-lhe de uma forma apelativa, não sabia quando tinha sido a última vez que tinha sorrido.

Sorri perante a sua aprovação, bebendo um gole de ambrósia enquanto pensava na próxima que perguntaria. 
- Lapis lazuli! - Exclamei, rapidamente. Era outra pedra que me encantava.

A sua curiosidade era tão genuína que me empolgava. Era capaz de ficar ali horas a falar com ela sobre pedras... Ou, bem, talvez a tivesse a massacrar com as minhas deixas.
Ser um anti social às vezes dá cabo da nossa sanidade em situações sociais.
- Bem, o Lapis Lazuli tem o poder da clarividência e da intuição e, geralmente é usada em  meditações, pois  serve como purificador mental e espiritual. Além do que, o lápis lázuli ajuda as pessoas  a desenvolverem a estabilidade e o poder da mente que possibilitara a atuação da força espiritual delas… - Fiz uma pausa. - É uma pedra preciosa poderosa, digna de deuses. 
Olhei-a com uma intensidade que não consegui controlar, mas acabei por desviar os olhos. Não queria ser constrangedor.
- Está do teu agrado a comida? - Tentei ser mais natural.

Ouvi-o com atenção, fascinada. Ele era possuidor de tanto conhecimento... Era encantador!
- Gosto dessa pedra. Lembra-me o mar... - Confidenciei. - E, sendo o mar agitado, acaba por não ter muito a ver. - Brinquei.
- Sim, a comida está deliciosa. Divinal, até. - Pisquei-lhe o olho, divertida.

- Fico contente que esteja do teu agrado. - Sorri e comi uma das iguarias. - E a Melody, como se está a adaptar?

- Acredito que bem.  - Disse, ligeiramente triste por nem a ter visto antes do jantar. - Pensei que ela e o Moritz iriam juntar-se a nós. - Admiti. - Ainda assim, gostaria de saber se me responderia a algumas questões sobre as almas. Tenho medo de cometer algum erro com eles.