{Exterior} Cavalariças

A quadriga parou nos estábulos, ela saiu num salto tão delicado e sublime. Mesmo à altura de uma deusa.Saltei também, com a minha capa a ondular com o salto, alguns dos espíritos já estavam a preparar-se para levarem os cavalos, mas parecia que nenhum deles queria ir para dentro.
Orion, em especial, foi até ela e acariciou-a com o focinho. Fiquei a olhar para aquela cena com olhos abertos.
- Os meus temíveis corceis foram enfeitiçados.  

Mal desci, nem tive tempo para reagir, já que um focinho negro e húmido veio afagar-me o cabelo. Soltei uma gargalhada e acariciei o pelo macio de Orion.
- Oh! És tão adorável. - Sussurrei para o cavalo.
De seguida, ouvi o Hades e ergui a cabeça para mirá-lo.
- O que quer dizer? - Perguntei, confusa.
Depois, percebi quando me apercebi da palavra "temíveis". Ri.
- Bem, acho que qualquer "macho" com bom gosto derrete-se perante o toque de uma mulher. - Brinquei.

Tal como Perséfone, segui até as cavalariças. Era melhor ficar com o bico calado antes que sai-se merda dele. Mas depois o cavalito aproximou-se dela e suspirei. E logo cavalariças... Hades o deus com cabelos... era só o que faltava.

O meu instinto foi de virar a cara com as palavras que ela disse. Senti que não era só para o cavalo que aquilo servia...
Fiz um esforço para sorrir, novamente, mas saiu muito aquém, again.
- Quer dizer que eles não costumam ser amigáveis. - Ignorei o resto de propósito, seria melhor assim.

Passei as mãos pelo cabelo e revirei uma mecha entre os dedos, um maldito tique que nunca consegui perder, enquanto avaliava-o pensativa.
A sua expressão deu-me vontade de rir, mas serrei os lábios para não o fazer. Não seria de bom tom. A verdade é que quando disse tais palavras, não percebi o duplo sentido que poderiam ter, mas agora... Bem, ele que considere aquilo que melhor o convier. Mas admito que a sua reação deu-me um friozinho delicioso na barriga.
Enquanto perdia-me no Hades, nem reparei que a atenção do Orion tinha-se focado na Melody, até a ouvir.

Estava tão dstraida a olhar o que me rodeava que nem reparei no cavalo a aproximar-se de mim e a cheirar-me. Surpreendida um berro acabou por sair da minha boca fazendo com que eu saltasse ainda com o susto que tinha apanhado.
-Estúpidos cavalos... - Acabei por sussurrar.

Ao ver a cena diante de mim, arregalei os olhos.
- Órion, seu malandro! Não se assusta as pessoas! - Reprimi o cavalo, vendo ele aproximar-se de mim com as orelhas baixas, num pedido de desculpas.
Ainda assim, quis rir. E era mau! Coitada da Melody! Quase que tinha um ataque cardíaco com o susto!
- Parece que manténs o "temível" do teu lado. - Disse para o cavalo, acariciando-lhe as orelhas.

Olhei atentamente para Perséfone a falar com o cavalo.
-Morrer... vejo o deus dos mortos... um cavalo dá-me um ataque cardiaco... o que pode acontecer mais hoje?

Olhei-a, preocupada. Vasculhei a minha mente, tentando arranjar algo para a animar.
- Bem, vais viver num palácio! Provavelmente terá toda a comida do universo e camas que parecem nuvéns!

Suspirei.
-Já sinto falta de mandar os caloiros fazer coisas por mim.

Ia perguntar-lhe se ela andava na universidade, ao falar de caloiros, mas apercebi-me que a Perséfone não deveria saber dessas coisas. Ou devia?
Caraças!
- Caloiros?
Odiava parecer uma retardada.

Olhei-a.
-Da minha fraternidade... bons tempos de presidente.

- Eras presidente? - Perguntei fascinada. - Oh! Então és alguém importante!

Fiz uma careta.
- Lamento, minha querida. - Disse com pesar. - Mas a morte não é o fim. Talvez ainda te surpreendas.

A Perséfone tinha acabado de intimidar o Órion? Isso só podia ser brincadeira e a forma como ele reagiu? Senhores, ela tinha realmente um encanto qualquer... Bem, talvez não fosse qualquer, a olhar para ela.
dei ordens para levarem os cavalos.
- O melhor será irmos indo para dentro, ambas devem estar cansadas. 

Assim que o ouvi falar de cansaço, apercebi-me o quanto desejava uma cama agora. Ter trocado de corpo, descobrir a minha situação atual e ainda ter de desvendar aquilo que iria ter de fazer era exaustivo.
Acenei para os cavalos à medida em que iam embora e depois mirei Hades.
- Sim, é boa ideia.

- Nesse caso, vamos, eu mostro a entrada. - Disse e fiz gesto para que me seguissem. 
Ela parecia realmente cansada.

Encerrado

Segui atrás dele.

Sai dali.

*ENCERRADO*

Eu precisava de me distrair, distrair do que sentia em especial. Nada melhor para isso do que ir trabalhar no ferreiro, fazer algumas jóias ou espadas.
Coloquei a minha capa num cabide e despi-me, ficando apenas de tanga a proteger-me. Com o calor que ali estava era a melhor opção.
Aqueci os formos e pequei nos materiais para começar a trabalhar.

Cheguei as cavalariças rapidamente. O garanhão baixou-se novamente para eu descer com maior facilidade e, uma vez com os pés no chão, afaguei-lhe o focinho, agradecendo a viagem confortável que me proporcionou.
De seguida, peguei novamente na flor que trazia, sorrindo.
Foi um belo gesto. Talvez um gesto de paz, ou de que as coisas poderiam ser melhores.
Mexi um pouco no cabelo até conseguir prender a flor atrás da orelha.
Subitamente, ouvi barulho atrás de mim, pelo que segui-o, até encontrar-me diante de uma porta de madeira.
Curiosa, abri um pouco a porta e espreitei para dentro. Hades encontrava-se de costas para mim, ocupado com algo. Trajava apenas uma tanga, lembrando-me uma versão muito mais sensual do Tarzan.
Dei por mim quase a babar-me para aquele pedaço de homem, desejando passar as mãos pelos seus músculos definidos, perdendo-me no seu calor.

Ouvi o meu corcel negro parar perto da porta, ouvi os seus passos e antes de me voltar para ela, já sabia que ela estava ali.
Inspirei fundo, parei de martelar o que estava a martelar e voltei-me na direcção da porta. Ela estava divinal, como sempre, com o seu encanto próprio e a sua aura de luz. Olhei.a e vi o narciso no seu cabelo.
Sorri-lhe.
- O Narciso assenta-te bem, revela ainda mais do que és, Deusa da Primavera. 
O meu coração batia um tanto quanto acelerado dentro do peito, talvez devesse-me focar no trabalho e deixar aquilo para trás... No entanto, não conseguia tirar os olhos dos seus lábios e desejar tocar na sua pele.